Retratos da Canção Brasileira – Duo de canto e violão Arte Salva 2020

Retratos da Canção Brasileira - Duo de canto e violão Arte Salva 2020 1

Nesta postagem tenho a alegria de trazer para vocês esse vídeo que foi selecionado no projeto Arte Salva da Secretaria Cultura de Minas Gerais 2020.

Trabalho que vem sendo desenvolvido com a soprano Valquíria Gomes desde os tempos da graduação na UFMG, e neste vídeo selecionamos 5 peças que gostamos muito e que possuem uma temática em comum, o amor.

Tivemos a oportunidade de realizar um projeto anteriormente que tinha uma temática semelhante e neste trazemos vídeos novos com arranjos e transcrições para este projeto.

Junto com a Valquíria fizemos diversos recitais em Belo Horizonte se apresentando tocando estas canções que tanto falam a nós.

Primeiro como admiradores destas canções e da junção da poesia e da música. Posteriormente como esta música retrata uma realidade da nossa cultura.

As serestas, os locais a relação com o ambiente com o amor.

Um pouco deste projeto anterior você pode ver, clique aqui,

Abaixo segue uma breve contextualização sobre as músicas que escolhemos.

Canção ao luar – Lorenzo Fernandez

Nascido em 04 de novembro de 1897 na cidade do Rio de Janeiro, Lorenzo Fernandez foi um dos grandes compositores brasileiros da fase nacionalista, do qual buscava uma aproximação na composição com a música puramente brasileira.

Estudou no Instituto Nacional de Música com os grandes professores como Francisco Braga, Henrique Oswald e Frederico Nascimento.

Em 1936 ele fundou o Conservatório Brasileiro de Música, o qual dirigiu até a sua morte, em 27 de agosto de 1948.

As duas peças escolhidas para este projeto são desta fase composicional com a identificação com o nacionalismo.

Na canção ao luar com poema de Gaspar Coelho o ambiente musical vai nos lembrar a seresta e em Toada pra Você com poema de Mário de Andrade, um texto que revela uma aproximação íntima que quer ir além do que está revelado no texto.


Canção ao Luar – Lorenzo Fernandez e Gaspar Coelho

O luar, se fosse som, teria a voz plangente
de um violino a gemer e a cantar
enamorado místico o seu sonho de amor
de eucarístico livor
n’uma ingênua e dolente melodia.

E se perfume fosse, teria a essência espiritual
e doce de um pequenino lírio peregrino,
se perfume fosse…

Mas o luar é luz!
suave como o olhar de Jesus ao conceder perdões;
Nevoento como o olhar de Maria aos pés da cruz,
cheio de piedade e sofrimento…

Toada pra você – Lorenzo Fernandez e Mário de Andrade

De você, Rosa, eu não queria
Receber somente esse abraço
Tão devagar que você me dá

Nem gozar somente esse beijo
Tão molhado que você me dá
Eu não queria só porque

Por tudo quanto você me fala
Já reparei que no seu peito
Soluça o coração bem feito de você

Pois, então, eu imaginei
Que junto com esse corpo magro
Moreninho, que você me dá
Com a boniteza, a faceirice

Com a risada que você me dá
E me enrabicham como o quê
Bem que eu podia possuir também

O que mora atrás do seu rosto, Rosa
O pensamento, a alma, o desgosto de você

Trovas n1 Op. 29 – Alberto Nepomuceno e Osório Dutra

Alberto Nepomuceno nasceu em 6 de julho de 1864 na cidade de Fortaleza. Ele foi chamado de “pai” do nacionalismo da música erudita brasileira, além de ter sido um dos primeiros compositores a escrever canções brasileiras consideradas eruditas.

Defendia o uso da língua portuguesa na música clássica afirmando que “não tem pátria um povo que não canta em sua língua”.

Quem se condói do meu fado
Vê bem como agora eu ando
De noite sempre acordado

De dia sempre sonhando

O amor perturbou-me tanto
Que este contraste deploro
Querendo chorar, eu canto

Querendo cantar, eu choro
Querendo cantar, eu choro

Curvado à lei dos pesares
Não sei se morro ou se vivo
Senhor dos outros olhares

Só do teu fiquei cativo
Por isso a verdade nua
Este tormento contém

Minh’alma não sendo tua
Não será de mais ninguém
Não será de mais ninguém

Lua Branca – Chiquinha Gonzaga

Nascida em 17 de outubro de 1847, Chiquinha Gonzaga foi uma mulher muito à frente de seu tempo, pois até sua morte aos 87 anos foi contra a sociedade de seu tempo ao ser uma mulher pianista e compositora.

Ela foi dos compositores brasileiros, a que trabalhou com maior intensidade a transição entre a música estrangeira e a nacional.

Além disso, foi maestrina de suas obras para teatro, por exemplo a opereta “A Corte na Roça”, quando nem o nome “maestro” em feminino existia.

Chiquinha nos deixou um legado de grandes composições e abriu porta para muitas mulheres que se tornarem musicistas e compositoras.

Oh, lua branca de fulgores e de encanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Ah, vem tirar dos olhos meus, o pranto
Ah, vem matar essa paixão que anda comigo

Ó por quem és, desce do céu, ó lua branca
Essa amargura do meu peito, ó vem e arranca
Dá-me o luar de tua compaixão

Ah, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes, lá no céu, me aparecias

A brilhar em noite calma e constelada
E em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés de minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo

Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo
Ela partiu, me abandonou assim

Ó lua branca
Por quem és
Tem dó de mim

Casinha Pequenina – Música de Domínio público

Tu não te lembras da casinha pequenina?
Onde o nosso amor nasceu?
Aí, tu não te lembras da casinha pequenina?
Onde o nosso amor nasceu?

Tinha um coqueiro do lado
Que coitado que saudade
Já morreu

Tinha um coqueiro do lado
Que coitado que saudade
Já morreu
Tu não te lembras das juras? Oh, perjura
Que fizeste com fervor?

Aí, tu não te lembras das juras, oh perjura
Que fizeste com fervor?
Daquele beijo demorado

Prolongado que selou
O nosso amor
Daquele beijo demorado
Prolongado que selou
O nosso amor

Projeto Arte Salva executado com recursos do Fundo Estadual de Cultura de Minas Gerais FEC. Ficha Técnica: Violão: Anderson Reis Soprano: Valquíria Gomes Vídeo: Anderson Reis e Valquírias Gomes Áudio: Giuliano Coura @giulianocoura

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