Aprender a ensinar com certeza será umas das coisas que farei pelo resto da minha vida. Na última semana passei 6 dias aprendendo a ensinar violão e aprimorando minha metodologia de ensinar música.
Talvez essa motivação se dê pelo meu prazer em ensinar ou por eu achar importante que as pessoas sejam independentes. Adoro a independência e a sensação de ser capaz de fazer alguma coisa por mim mesmo.
Participei de um curso de formação de professores que utilizou a metodologia Suzuki aplicada ao violão. Foi uma oportunidade única passar 6 dias, refletindo e aprendendo como ensinar violão com uma professora que possui quase 30 anos de experiência.
Éramos 7 professores de violão ao todo, de diferentes partes do país, cada um com sua experiência trouxe diversas contribuições ao curso, e enriqueceram a aprendizagem, tanto nas aulas, quanto nas conversas que aconteciam durante os intervalos.
Durante a minha formação fiz inúmeras aulas de violão, seja assistindo ou participando de aulas em festivais de músicas, simpósios e congressos. Sobre “educação musical “, este curso propôs uma experiência diferenciada.
Lembro das primeiras vezes em que fiz masterclasses de violão com músicos que integravam um quarteto de violões, de São Paulo, já extinto. Alguns destes músicos atualmente são professores universitários.
Acho que na época devia ter uns 17 ou 18 anos e estava nos primeiros passos do violão clássico.
Lembro de não ter saído com uma excelente impressão das aulas. Não que eu tenha achado ruim, mas lembro muito bem dos professores meio que “brincando” por eu estar tocando o Prelúdio I do Villa-Lobos, com um caráter espanholado, sobretudo, naquela seção central.
E, considerando a peça, realmente não faz nenhum sentido musical empregar esse caráter à obra. É música brasileira e o Villa-Lobos faz uma homenagem ao homem do campo.
Hoje, consigo pensar na dimensão das coisas e avaliar quem eu acho que eu era e quem eram os jovens violonistas na época que me deram aulas de violão naquela masterclass.
Relembrar aquela época me faz pensar na experiência que tive durante o curso de metodologia Suzuki para violão, com a professora Diana Chagalj, percebo que a minha responsabilidade como professor de violão aumentou ainda mais.
Talvez aquela experiência da Masterclass poderia ter sido marcante e traumática para o resto da minha vida.
Visto que, me recordo bem da situação, como uma experiência ruim, esta poderia ter traçado negativamente meu percurso violonístico. Porém, fiz muitas outras aulas depois desta que foram estimulantes, e este fato negativo que relatei, passou a ter um significado menos importante para mim.
O trabalho de professor de violão/música ainda precisa se desenvolver muito, sobretudo no que tange aos próprios professores.
Muitas vezes ouvi histórias de alunos que tiveram professores que utilizaram metodologias antigas de ensino na música. Métodos arcaicos, baseados na repetição mecânica e com pouca reflexão, sem um caminho pedagógico.
Os alunos podem desenvolver pequenos traumas por ter um professor com pouca sensibilidade interpessoal e baixa instrução profissional.
Recordar a primeira masterclass de violão, pensar como o professor de música é geralmente visto e compreender como a metodologia Suzuki é aplicada ,pela professora Diana Chagalj, me fez repensar na importância da profissão.
Os professores precisam enxergar a necessidade de continuamente estarem se formando, conhecer novos métodos, abordagens e atualizando suas práticas de ensino. E assim possam se valorizar enquanto profissionais, e deste modo, todos compreendam a relevância que o ensino musical possui na sociedade.
Há diversos estudos e pesquisas sobre os benefícios da música para o desenvolvimento humano, e cada vez mais está havendo divulgações sobre a importância deste tema. O senso comum até reconhece algum valor na prática musical, mas ainda, de modo muito vago.
Também acho que a percepção possui sua esfera individual. Adianta pouco falar que tal prática é boa. O indivíduo precisa aprender, por si mesmo, que a iniciação musical é importante, como aquela história de Tomé, que precisava ver e tocar para crer em Cristo, penso que é por aí.
A experiência subjetiva da formação musical se transformará em um valor intrínseco, no qual será percebido como substância essencial da formação humana.
Aprendendo a ensinar: Como se comunicar
Ao realizar o curso pude entender como um professor de violão deve fazer ao se comunicar com um aluno:
- incentivar,
- corrigir,
- elogiar,
- ressaltar aspectos positivos,
- estar atento,
- falar das coisas boas.
De fato, a forma como a Diana se comunicou foi uma das grandes lições deste curso. Devido a sua experiência juntamente com o conhecimento da Filosofia Suzuki.
Este modo de comunicação, provavelmente é próprio da cultura oriental e não apenas da metodologia Suzuki. Um dos meus filmes prediletos, O Último Samurai, apresenta um pouco dos valores e cultura Japonesa do século XIX, no período da Restauração Meiji. A sensação de reverência pela vida e da valorização do conhecimento cultural, desta sociedade, é percebida através da bela narrativa da obra cinematográfica citada.
Assim, mesmo longe da cultura nipônica é possível perceber este ar nas aulas de violão da professora. Alinhado com esta forma de comunicar, lembrei do conceito de The Nonviolent Communication (NVC) – comunicação não violenta do Marshall Rosenberg, cada vez mais popular.(clique AQUI saber mais)
É impressionante como se trabalha aspectos técnicos que podem parecer, a princípio irrelevantes, com tamanho detalhe e cuidado. Um destes aspectos técnicos é a postura ao sentar.
É um princípio norteador para a professora. Algo básico, que infelizmente, muitas vezes serão resolvidos apenas na faculdade, isso se o aluno chegar a este estágio de desenvolvimento.
Este princípio técnico é estrutural, como ela diz:
“Não se pode construir um edifício sem que as estruturas não estejam sólidas”.
E assim vi em praticamente todas as aulas que observei da professora.
Durante o curso de violão Suzuki, observei mais de 13 aulas, com duração aproximada entre 30 e 40 minutos.
Em todas as aulas este princípio foi trabalhado, com alunos iniciantes e intermediários, nas faixas etárias de 4 a 46 anos. Mesmo entre os professores que estavam realizando o curso Diana foi cuidadosa e auxiliou corrigindo posturas e técnicas. Sendo portanto uma oportunidade de revisão técnica instrumental para os que lá estavam.
Os fundamentos da boa postura no violão foram trabalhados com o mesmo rigor, dedicação e motivação.
Está tudo bem se os princípios não estão claros, vai ser trabalhado com o mesmo afinco, sem achar que é algo menor, pelo contrário, tratando com máxima prioridade.
Ainda sobre o modo de falar, nenhum aspecto negativo foi ressaltado e nem sequer foi citado. O que havia era um convite para trabalhar técnicas que estavam menos desenvolvidas.
Inclusive Diana nos contou uma história sobre Shinichi Suzuki, o professor fundador do método, que ilustra esta prática de comunicação.
Em uma das das aulas o professor Shinichi Suzuki estava procurando algo positivo para falar a um aluno de violino, depois de alguns minutos de aula, não conseguindo encontrar nenhum aspecto em que o aluno pudesse ter melhorado de uma aula para outra o professor falou: “que bom que viestes à aula!”
E assim, este princípio foi aplicado em todas as aulas que observamos durante o curso. Motivar os alunos e sempre buscar seus pontos positivos. Claro, sendo aplicado de modo muito verdadeiro, nunca elogiando apenas para cumprir o protocolo.
Por fim, foi uma excelente oportunidade de aprimorar a minha forma de como ensinar violão. Em cada fase da vida estamos com valores diferentes, focando em alguma habilidade e foi muito importante aprender com a Diana Chagalj a metodologia Suzuki.
Com certeza o aprendizado perdurará e poderei aplicar muito do que experienciei nas minhas aulas de violão, guitarra e ukulele que ofereço presencialmente em Belo Horizonte.
Desejo ser inspirador assim como fui inspirado pela metodologia, que as minhas ações possam reverberar nos alunos, motivando-os a serem pessoas melhores, mais disciplinadas, amigáveis e felizes por terem a música como um valor indispensável para suas vidas.
A metodologia Suzuki ainda vai ser assunto de outra postagem ainda neste Blog.
Se quiser ler um texto que fala um pouco sobre a reflexão de professor de violão clique aqui.
Quem quiser conhecer de perto a professora veja o vídeo abaixo.
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Valeu por ler até aqui!